Saudades de Belgais

Já me sentei aqui várias vezes para escrever isto mas ainda não tive muito tempo. Vai agora.

Belgais foi especial.
Senti os dias como um concentrado de meses todos juntos. Acordámos juntos, comemos juntos, passeámos juntos e saímos à noite juntos. Com calma, com stress, com mega energia, cheios de sono. Mas no mesmo espaço e com as mesmas pessoas. Que por acaso somos nós e até já nos conhecíamos bastante bem. Mas, ali, reconhecemo-nos.
Se calhar, porque andei um ano por fora, mais longe, precisava disto. E nem sabia.

Ontem acordei e não tinha o Raúl ali ao lado. Foi estranho. Foram só 3 acordares à conversa, mas bastou. Levantei-me sem ser acordardo pela Janeca e sem ter de ir acordá-la. Não tirei a voz da rouquidão ao som do pianar da Matilde. Não encontrei o António com o humor de quem acordou há já 3 horas, nem o Miguel a pôr a minha criatividade a sair da letargia. Não comecei o dia alegre porque não vi o sorriso do Simão nem ouvi a gargalhada da Maria. O Bernardo não me veio ouvir contar a noite de ontem nem a Joana me ajudou a fazer o pequeno-almoço. E comecei o dia stressado porque não tinha o Diogo a lembrar-me de relaxar.
Não houve caminhadas para esticar as pernas e a cabeça. Não construí barragens, não descobri caminhos, não subi ruínas. Não corri que nem louco, não aprendi a tirar fotografias no escuro, não fiz festas a cães, não ensinei ninguém a guiar, não passei pontes incertas, não fiz ricochetes na água nem fechei os olhos a ouvi-la, não fiz parte de uma orquestra xilofónica, não fiz ralies caseiros, não servi sopas em cadeia, não conheci bailarinas, não esperei pelo nascer-do-sol, não atirei miúdos ao ar, não vi as estrelas à noite, nem sequer sujei as calças!
Tive, pois, um dia normal. Tive, pois, saudades.

Pelo que já disse, pelo que já escrevi. Pelo que nunca disse, pelo que nunca escrevi. Vocês ganham cada vez mais espaço em mim. No que me faz eu e no que quero ser. E faz-me falta o tempo que passo sem vocês. Por isso estes 3 dias foram demais! E por isso ontem não ía bem para a cama se não tivesse ido ao merca-tudo! E hoje vou mal para a cama!

Estou a parecer negativo, mas é por dificuldade de expressão e não por sentimento. Pelo contrário. Foram dois óptimos dias normais. Porque aquele ar de Castelo Branco encheu-me os pulmões por muito tempo.

Também a ida da Janeca me tem dado que pensar. Na sorte que eu tenho tido com as pessoas que têm feito a minha vida. E na força que isso me dá (parece sempre que nunca vou cair - foi um pensamento que tive muito em Roma - vá para onde fôr, faça as asneiras que fizer, sinto sempre que vos tenho e que me protegem com tudo). A mim parece-me quase trivial que te vás por 10 meses. Não na falta que vais fazer. Nem na falta que vais sentir disto. Mas no quão próximos vamos sentir-nos a 2278km de distância (http://www.viamichelin.com/viamichelin/gbr/dyn/controller/ItiWGPerformPage?reinit=1&strStartAddress=&strStartCP=&strStartCity=lisbon&strStartCityCountry=669&strDestAddress=&strDestCP=&strDestCity=trento&strDestCityCountry=612&image.x=7&image.y=18).

Ganda galhofa que foi esta passagem de ano. Quero lá saber se não tem sentido, se é uma noite como as outras todas. Gosto do simbolismo, da magia, da fantasia, da loucura e do mistério! Quero mais!

Sabes pôr música nas pessoas como ninguém. És um mestre, DJ Gimbras. Obrigado.