segunda-feira, fevereiro 14, 2011

Geração à Rasca

Li no outro dia que uma nova canção dos Deolinda estava a dar voz ao sentimento de frustração calado que existe na nossa gerção. E hoje li que no dia 12 de Março vai haver uma Manifestação.
E fiquei comovido com isto. Desde sempre que o nosso maior tema de discussão é a falta de acção, cultural ou geracional. Sabemos que estamos e somos educados para a reflexão, para a palavra e para o refilanço, mas não para fazer alguma coisa. E ficamos frustrados com isso, horrivelmente frustrados porque mexe com uma sensação de impotência que parece impossível de romper, como se houvesse sempre uma mão invisível que nos pára, que deita qualquer idea abaixo, que começa sempre pelos defeitos em vez das virtudes. Procuramos ante tudo a segurança e o não mudar muito a nossa condição, ainda que por dentro fervilhemos de vontade de que vá tudo para as urtigas e que apareça algo novo. Sempre nos queixámos, sempre se queixaram à nossa volta e nunca vimos mudança. Vimos uma geração que tentou mudar e se revoltou e que ficou incrivelmente desiludida com a sua revolução ao ponto de muitos dizerem que era melhor antes, com menos liberdade, porque esta não trouxe as melhorias esperadas.
É humano que então, nós, fiquemos aterrados perante a mudança, porque aprendemos pelo exemplo e não pelas palavras. E aprendemos que as expectativas geradas pela conquista da liberdade deram fruto a uma geração desiludida e sem esperança no que aí vinha. Nós.

Mas isso não cala o nosso desejo de revolução, o nossos sonhos, mas ao mesmo tempo crescemos a aprender que não podemos fazer nada. Então queixamo-nos. E temos ideias. E sonhamos. Porque por algum lado tem que sair tanto desejo. Carregamos os nossos e os do passado, os desejos de gerações que não os podiam ter. E carregamos também as certezas de que não os podemos concretizar.

Mas esta certeza não é nossa. Nós sim, podemos materializar os nossos sonhos. Temos tudo. E é normal ficar aterrado perante esta possibilidade, porque temos a sensação de que o que nos libertou, nos prende. A possibilidade transformou-se em obrigação. E eu não quero meter a pata na poça.

É um círculo vicioso de desejos e frustrações que parece que vai encontrando um objectivo. Esta canção, esta manifestação parecem-me sinais de que vamos encontrando o nosso caminho. Porque de isso se trata, de sair de casa dos pais - em sentido real e figurado. Podemos sonhar os nossos sonhos e não os dos outros. E essa é a única obrigação que temos para com os que nos deram a vida.

2 Comments:

Blogger janeca said...

que maravilha.

20/2/11 12:57  
Blogger B. said...

Fui ao concerto e a reacção a essa música foi mesmo brutal... Ali percebeu-se que algo crescia sem vergonhas.

24/2/11 22:50  

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