sexta-feira, fevereiro 18, 2011

Mudanças no Merca-Tudo com "The End"

Mudanças e mais mudanças.

Uns saem de casa, outros mudam de casa, de país, de emprego...

Já passei por quase tudo isto mas continua a fazer mossa, mossa boa aqui e ali.

O Fred começou o Merca-Tudo comigo, rapidamente juntámos o Miguel e a naturalidade com que todos vocês fizeram parte daquela casa (acho que o Zé dormiu lá mais vezes que alguns hóspedes por exemplo) foi sempre de encontro ao que queríamos. Queríamos a proximidade da liberdade de podermos estar quando quiséssemos estar.

Sim, no início tivemos polícia, o senhorio a jurar "nunca mais", os putos a levar com balões de água, alguidares, papel higiénico, copos de vidro e por fim quando reagiam o Miguel colocava o indicador na boca e dizia "chiuuuu... caladinho...". Tivemos dezenas queques pendurados no tecto (devido a umas "contas por alto" para os santos populares), uma televisão avariada que foi motivo suficiente para o Fred lhe mandar um biqueiro e além de a partir em definitivo partiu também a mesa onde ela estava, um frigorífico com demasiado gelo que o Fred começou a retirar com um garfo de grelhador e... enfim... o Miguel avisou "olha que isso ainda fura" e ele "naaaa"... pouco depois lá se ouve aquele famoso "Foda-se!" quando fazemos merda... Atirámos a loiça que estava "a mais" pela janela, fizemos o teste da Cola Light com os Menthos pela... janela! Tivemos a campainha estragada por causa da raiva de uns putos (ao menos estragou-se por causa do uso excessivo), tivemos as paredes forradas na festa surpresa do Miguel, o sofá clássico a vaguear pelas ruas para o Zé, 76 pessoas na minha festa de anos ou simplesmente os licores fantásticos que os pais do Zé ofereceram, tivemos gajas MALUCAS em quartos ali para o lado da cozinha, noites ÉPICAS de PES com a famosa frase "é só mais um joguinho...", birras épicas quando eu perdia com o Fred e ele me varria gajos por trás quando eu ia isolado, birras épicas quando eu perdia com o Fred mesmo sem ter nada para me desculpar, concursos de sustos uns aos outros que o Miguel ganhava sempre.
Eu podia estar aqui 1 dia a lembrar-me de momentos épicos do merca-tudo que recordamos com as gargalhadas mais sentidas de todas...

Se se lembrarem de algumas partilhem!

Enfim, tudo isto para dizer que depois da saída do Fred veio agora a saída do Miguel e a verdade é que embora eu viva num harém com 3 mulheres (4 quando a Cláudia está lá), já nem sinto que vivo no Merca-Tudo... Cada vez sinto mais que aquela casa perdeu tudo e que o Merca-Tudo era todo um conceito que sem os intervenientes morre. Sozinho não consigo dar a réplica que os vizinhos ou os utentes dos restaurantes e bares das redondezas esperam...

O conceito ao menos ficará mesmo para sempre e acreditem, muitas destas histórias vão-se repetir de uma forma cíclica em todas as nossas reuniões... Isto só por si é uma vitória e acima de tudo sei que todos vocês partilham do que sinto em relação àquela casa, porque nunca pagaram renda mas sempre viveram lá.

Abraços e...

And Now for Something Completely Different:

segunda-feira, fevereiro 14, 2011

Geração à Rasca

Li no outro dia que uma nova canção dos Deolinda estava a dar voz ao sentimento de frustração calado que existe na nossa gerção. E hoje li que no dia 12 de Março vai haver uma Manifestação.
E fiquei comovido com isto. Desde sempre que o nosso maior tema de discussão é a falta de acção, cultural ou geracional. Sabemos que estamos e somos educados para a reflexão, para a palavra e para o refilanço, mas não para fazer alguma coisa. E ficamos frustrados com isso, horrivelmente frustrados porque mexe com uma sensação de impotência que parece impossível de romper, como se houvesse sempre uma mão invisível que nos pára, que deita qualquer idea abaixo, que começa sempre pelos defeitos em vez das virtudes. Procuramos ante tudo a segurança e o não mudar muito a nossa condição, ainda que por dentro fervilhemos de vontade de que vá tudo para as urtigas e que apareça algo novo. Sempre nos queixámos, sempre se queixaram à nossa volta e nunca vimos mudança. Vimos uma geração que tentou mudar e se revoltou e que ficou incrivelmente desiludida com a sua revolução ao ponto de muitos dizerem que era melhor antes, com menos liberdade, porque esta não trouxe as melhorias esperadas.
É humano que então, nós, fiquemos aterrados perante a mudança, porque aprendemos pelo exemplo e não pelas palavras. E aprendemos que as expectativas geradas pela conquista da liberdade deram fruto a uma geração desiludida e sem esperança no que aí vinha. Nós.

Mas isso não cala o nosso desejo de revolução, o nossos sonhos, mas ao mesmo tempo crescemos a aprender que não podemos fazer nada. Então queixamo-nos. E temos ideias. E sonhamos. Porque por algum lado tem que sair tanto desejo. Carregamos os nossos e os do passado, os desejos de gerações que não os podiam ter. E carregamos também as certezas de que não os podemos concretizar.

Mas esta certeza não é nossa. Nós sim, podemos materializar os nossos sonhos. Temos tudo. E é normal ficar aterrado perante esta possibilidade, porque temos a sensação de que o que nos libertou, nos prende. A possibilidade transformou-se em obrigação. E eu não quero meter a pata na poça.

É um círculo vicioso de desejos e frustrações que parece que vai encontrando um objectivo. Esta canção, esta manifestação parecem-me sinais de que vamos encontrando o nosso caminho. Porque de isso se trata, de sair de casa dos pais - em sentido real e figurado. Podemos sonhar os nossos sonhos e não os dos outros. E essa é a única obrigação que temos para com os que nos deram a vida.